A Pascoa na Vila do Ferro
Passou-se mais uma Pascoa e na nossa Terra, mais uma vez, viveu-se a Pascoa conforme a tradição. Assim, mostro as fotos da visita Pascal na Vila do Ferro, e aproveito um dos magníficos textos do Sr. Dotejo para, em conjunto com as fotos, mostrar como é a Pascoa. Mesmo que a Pascoa hoje em dia já não é o que era antigamente.
.
A Páscoa!
Depois das cerimónias festivas, vinha o almoço um tanto breve do Prior que lhe dava forças para o "Calvário" que o esperava no povoado e, na Segunda-feira e talvez no Domingo seguinte, nas quintas da Freguesia. Já com as vestes, com acompanhantes pegando no Cristo crucificado, na Caldeirinha da água benta, na Bolsa para recolha de dinheiro e na Campainha, mandava abrir a porta da Torre, onde uma fila de especialistas em música esperava. Com um sorriso de esperança, o Prior e o seu cortejo iniciavam a Visita Pascal ao som do toque cheio de alegria dos Sinos que terminava lá para as tantas, já depois da noite ter chegado. O circuito era conhecido por todos e a hora aproximada da visita a cada casa também. Era rara a casa que, tendo gente sem morte recente e com saúde, não tivesse a porta aberta quando o Prior passava. À medida que avançava, o cortejo ia aumentando com a malta que vinha de casa ou de uma visita já feita.
.
O dono ou a dona da casa recebia o Prior à porta. Era conduzido à sala mais digna, onde a família e os amigos aguardavam a sua bênção e as suas palavras. A cruz era beijada, a bênção vinha em água benta. Na mesa, estavam os bolos, pão-de-ló, esquecidos, biscoitos, bolo escuro e outros que pediam para ser comidos, copos pequenos e grandes, garrafas com diversos licores e vinhos e um pratinho com dinheiro, o folar da Páscoa e ou a congora. Se o Prior entendesse recolher o dinheiro, fazia sinal ao Sacristão que o metia na Bolsa. Lá fora, na rua, a malta cantava Aleluias, esperando que, pelo menos, uma janela se abrisse.– Senhor Prior, sente-se, descanse um pouco, coma um bolinho e beba qualquer coisa – Rogava-lhe a dona da casa.
O Prior desculpava-se com a escassez do tempo para as casas que ainda faltava visitar. Uma ou outra vez, pedia um copo de água e lá saía para entrar na casa ao lado.
.
A janela ou as janelas abriam-se já quase no final da visita, a cantilena da malta mudava para um pedido:– "Práqui"! – Diziam todos bem alto.Começava então uma queda de chuva violenta de rebuçados, amêndoas, castanhas piladas, figos secos e moedas. A malta iniciava uma dança de encontrões, de quedas, de estender e encolher de braços, de mãos abrindo e fechando, de passos de cócoras para um e outro lado. (...)
(...) A dança da chuva provocou uma trovoada de berros, cotoveladas e tombos. Dir-se-ia que a malta teve sorte em um raio atingir um espaço tão pequeno. As janelas fecharam, o Prior saiu e a malta abandonou o local da “batalha” integrada no cortejo que parou uns metros mais à frente.O Prior entrou, a malta cantou olhando lá para cima, nova “batalha” iria começar.
Depois da visita do Senhor, o pessoal convivia e, enquanto as conversas se desenrolavam, atacava a mesa, onde os bolos iam desaparecendo e os copos se iam sujando de licores, de vinhos e até de água. Já com a mesa quase vazia, as pessoas iam saindo, eram horas do Prior entrar em casa do primo, da tia ou de outro familiar ou amigo.
A meio da tarde, os bolos já não desapareciam, o pessoal já se ia fartando de comer os bolos que não comia durante o resto do ano.
.
Comentários